Páginas

domingo, 25 de agosto de 2013

Conto: O silêncio machuca tanto quanto as palavras.

E ele disse:
- Escreva algo feliz, mostre-me o lado belo de sua alma.
Ela tentou várias vezes, pegou aquele velho caderno, cujas páginas já se encontravam amareladas e se recostou no canto do quarto, lá onde ninguém pudesse interrompê-la enquanto rabiscava algumas palavras..  Eu vi quando as lágrimas mancharam as poucas palavras que ela havia escrito, eu vi seus olhos vermelhos. Senti que ela não estava bem, mas não conseguia entender o porque de tamanha tristeza.
Ela não podia me enxergar mas de alguma forma sabia que eu estava ali, tentei falar que podia contar comigo, mas ela não me ouvia, minhas palavras estavam soltas no espaço.
Eu vi quando ela se levantou rápido mas não entendi o porque, foi quando ele entrou urrando, eu não via medo em seu olhar e sim raiva, presenciei uma cena que deixaria qualquer um traumatizado. Era um homem que acabará de entrar no quarto, cheio de reclamações sem sentido, vi como ela engoliu o choro rápido e suportou tudo aquilo em pé sem dizer uma única palavra, talvez já não tivesse mais forças para tal atitude, quando ele se afastou, eu vi o estrago que havia causado.
Quando ela se sentou novamente, foi inevitável. Ela chorou como nunca havia feito antes e de uma forma tão silenciosa que até me espantei, ela precisava de amor, de carinho, de alguém que a compreendesse, eu sabia disso mas não conseguia ajudar, a dor dela era perceptível de longe, no entanto, ninguém enxergava ou se recusavam a ajudar.
Aquela cena doeu em mim, foi tão doloroso, ela estava trêmula, o coração envolto em uma agonia sem fim e não aparecia ninguém para ajudá-la. foi quando ela se levantou e enxugou as lágrimas deixando o caderno em cima da cômoda que eu percebi, ela acabara de escrever uma carta.
Havia suportado demais, mais do que poderia imaginar, demorou para tomar tal atitude, o silêncio enfim havia soltado seu último grito e só eu ouvi.
Na carta não havia rodeios, palavras sentimentalistas ou reclamações, não havia pedido de desculpas, ela havia escrito naquela página apenas um simples " Cansei " e naquele momento eu presenciei a corda cumprir uma de suas funções mais condenáveis, ninguém jamais saberia o porque da atitude dela por que ninguém viu o que eu vi,  eu presenciei um enforcamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário